França segue contra a reforma da Previdência

Protestos contra reforma da Previdência na França completam 51 dias

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A Torre Eiffel, que chegou a ser fechada

PARIS — Dezenas de milhares de pessoas participaram nesta sexta-feira de uma nova jornada de protestos contra a reforma da Previdência na França. O ato coincidiu com a apresentação do texto da reforma no Conselho de Ministros, após semanas de uma greve histórica.

— Macron, renuncie — gritaram os manifestantes em Paris, em referência ao presidente Emmanuel Macron, que fez da reforma das pensões seu projeto emblemático.

A manifestação reuniou 249 mil pessoas em toda a França, sendo 31 mil na capital, segundo o Ministério do Interior. Já a CGT, o sindicato à frente dos protestos, disse que eram 1,3 milhão em toda a França, e entre 350 mil e 400 mil em Paris.

51 dias de protesto

Iniciado em 5 de dezembro, o movimento completou na última sexta-feira 51 dias — um período excepcional, mesmo para uma França habituada aos movimentos sociais.

— A mobilização continua sendo importante — assegurou Philippe Martinez, secretário geral do CGT. — O governo é teimoso, devemos continuar pressionando — avaliou.

Nesta sexta-feira, as linhas de metrô de Paris tiveram grandes atrasos, apesar de o serviço ter sido quase normalizado esta semana, depois de os sindicatos optarem por outros formatos de protesto, como o bloqueio de portos e os cortes de eletricidade. O tráfego ferroviário foi meno afetado e os trens internacional funcionaram normalmente.

O apoio à mobilização é desigual: segundo uma pequisa publicada pela BVA nesta sexta-feira, 70% dos francesses acham que o movimento deve continuar. Mas outra pesquisa de opinião, realizada pela Odoxa, estima que cerca de 56% dos franceses querem que a greve “pare”.

Em manifestações anteriores foram registrados atos de vandalismo e enfrentamentos com as forças de ordem, promovidos essencialmente por radicais de extrema esquerda “black bloc”, que terminaram com dezenas de feridos e de detenções. O governo tem sido acusado de consentir a truculência da polícia.

A reforma de Macron

A reforma da Previdência proposta por Macron deve ser debatida no Parlamento a partir de 17 de fevereiro, com vistas a ter sua primeira votação em março. A ideia é acabar com os 42 regimes especiais e instituir um sistema único para o cálculo da aposentadoria. Macron também pretendia aumentar de 62 para 64 anos a idade mínima para que o cidadão tenha o direito à aposentadoria integral, mas abriu mão dessa proposta no início de janeiro.

O presidente francês assegura que o novo sistema será mais transparente e justo, especialmente para mulheres e trabalhadores de baixa renda, como os agricultores. Os sindicatos afirmam que as pessoas terão que trabalhar mais tempo, por uma aposentadoria possivelmente menor.

A proposta de Macron visa reduzir privilégios de determinadas categorias profissionais, como a dos funcionários da estatal ferroviária SNCF e da rede de metrô parisiense. O governo argumenta que é um sistema “mais justo e simples”, em que “cada euro de contribuição dará os mesmos direitos a todos”.

Os sindicatos temem que a reforma possa trazer desvantagens aos trabalhadores com currículos irregulares e forçar quase todos a trabalharem por mais tempo até poderem se aposentar.

Após a oposição ao plano de reformas ganhar força, o governo cedeu e garantiu que o novo sistema de pensões iria abranger apenas as gerações nascidas a partir de 1975 e que todas as regras do novo sistema só valeriam para quem entrar no mercado de trabalho a partir de 2022.

Protesto na capital. Paris

Proposta de aumento da idade mínima

O governo também acenou com a possibilidade de eliminar a proposta de aumentar a idade mínima de aposentadoria de 62 para 64 anos, o que vem sendo agora cobrado pelos sindicatos.

O presidente se manteve impassível frente aos múltiplos e repetidos protestos contra a reforma, que em dezembro chegaram a atrair 800 mil pessoas, mas vêm perdendo força nas últimas semanas.

Pesquisas de opinião divulgadas nesta semana demonstram que a população ainda vê com ceticismo as propostas de Macron. Um levantamento divulgado pela emissora BMFTV revelou que 69% dos franceses acreditam que o presidente deveria prestar mais atenção aos argumentos de seus opositores.

Outra pesquisa, publicada no Journal du Dimanche, afirma que 55% dos entrevistados expressaram simpatia às greves e protestos, com 33% contrários às manifestações.

* Com agências France Presse e DW – Link abaixo

https://www.dw.com/pt-br/em-meio-a-protestos-fran%C3%A7a-encaminha-reforma-da-previd%C3%AAncia/a-52145520

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